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Depoimento para o catálogo Arte e novos meios (FAAP), de Leticia Parente

Proposta de seriação de trabalhos, de Letícia Parente (trecho do texto Letícia Parente por Letícia Parente)

Arte postal: produção de vídeo, relato de Letícia Parente

xerox e arte postal

Leticia Parente – Livro : Arte e Novos Meios (FAAP) de Letícia Parente

“Em termos de trabalho eu cheguei a articular A Proposta da Casa (série de xerox), cujo assunto é a casa, em Fortaleza e no MAC-USP, mas dependia do trânsito dentro do espaço. Comecei o trabalho em xerox em 74, e esporadicamente ainda faço, mas não é o cerne da questão. É uma casa com cortes, na sua planta baixa, que tem três situações geográficas, três estados: Bahia, Ceará e Rio, as minhas residências.

Outra coisa importante deste trabalho é que sempre há um elemento de tecnologia do nosso tempo, que acrescento e procuro contrastar com a linguagem mais poética: então, essa planta baixa, que é de uma casa típica de BNH, com os sinais de letraset, por exemplo, é seta num lugar-comum de indicação. Fui colocando idas e vindas, voltas e revoltas na entrada, e no lugar da conversa tem essas mãos todas aqui (em letraset), diálogos desejados e coisas assim. No quarto há sete camas em letraset, sete alternativas. Numa mistura de senso, inocência e sinais estereotipados – aqui rituais de codificação.

Em Mulheres eu já estava numa linha de testemunho um pouco diferente, que era um trabalho em cima da mulher. O corpo da mulher todo escrito com as suas fissuras, o olhar, os braços.Todo o corpo em cima de um quadrante terrestre posicionando, e o contorno do corpo todo feito da própria função do corpo – não no sentido só da função física, mas de uma função social-humana.

0 outro era uma seqüência de perucas, de fisionomias de mulheres. A contradição, as perucas, as mulheres carregando perucas, os manequins carregando as perucas e as mulheres imitando as fisionomias dos manequins – aquele efeito estilizado do manequim. Havia uma seqüên¬cia de óculos: uns que davam felicidade, outros que estavam ainda com olhos e narizes, boca sentimental, todo aquele jargão do consumo querendo decifrar o psiquismo feminino, usando ao mesmo tempo e veiculando a propaganda.

A fase do corpo que testemunha situações culturais, políticas e sociais culminou em um trabalho de vídeo que de todos foi o que conseguiu a sigla mais forte – chama-se Marca Registrada. Nesse trabalho eu costuro na sola do pé com uma agulha e uma linha preta as palavras Made in Brasil na pele. É uma agonia! Dá muita aflição, porque a agulha entra, fere o meu pé – só podia ser o meu próprio. Há um costume popular na Bahia em que se borda muito com uma linha na palma da mão e na sola do pé. Esse é o trabalho de vídeo de 75, que sintetiza essa fase toda.

Em geral, a gente tem de ter essa caminhada, um processo de gestação de certo modo, eu não sei dizer o que é – se é emocional, se é intuitivo –, e depois tem a parte de reflexão. Realmente o pensamento faz a consistência, elabora as amarras das coisas. E a vida é momento, é paixão, é emoção, é tudo misturado. O pensamento está ali fecundando essas coisas todas e estruturando, porque às vezes me parece que é assim. Estava preocupada com que as coisas tivessem vários questionamentos, porque estava interessada nas respostas.”

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